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terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

O engasgo

    Um engasgo. Nem desce - sai muito menos. E era obrigação do conteúdo ejetar-se, naquele exato momento, em que achava oportuno, e cair nos ouvidos de alguém muito especial. Não antes. Não depois. O universo funciona numa lógica determinística, em que certos eventos só ocorrem depois de outros. É assim na física. É assim na química. É assim na vida, enfim.
     O pior é: tu sabias que aquela era a hora. Tu sabias que poucas palavras te levariam a uma dimensão nunca antes experimentada. Mesmo arrastados balbucios seriam o bastante. Mas eles sequer vieram. Preferiram ficar entalados em minha garganta, punindo-me desde aquele momento até sabe-se lá quando. Não sei nem se já se foram. Afeiçoei-me à sua companhia, ainda que saiba do que são capazes. De certa forma, odeio-me por isso. Ao mesmo tempo, já me livraram de muitas coisas ruins. Ao mesmo tempo, já me privaram de muitas coisas boas.
     "Se o acordo é sofrer um pouco, aceito!"
     "Não, tu não podes acordar isso".
     "Obviamente, posso! É minha a garganta! São meus os pulmões! É o meu coração!"
    "Inútil. Podes ter a mais limpa garganta, os mais fortes pulmões e um coração amante, pronto para dar-se àquela que também o quer. Mas os engasgos, ah, estes também são teus! Eles também são tu próprio!"
      E nada foi como esperava. Como queria. Não era como sabia.
     Cheguei à porta do paraíso e não bati, pois me vi sem mãos. Tomei a sitar em meu colo e não toquei, pois me percebi sem ouvidos. Me puseram de frente à Máquina do Mundo e não a contemplei, pois meu olhos estavam secos.
     Mas o universo funciona numa lógica determinística, em que certos eventos só ocorrem depois de outros.
      O engasgo há de sair. Em seu momento.

sábado, 30 de agosto de 2014

A Partida: pt. II

E continuou.
     Porém, as contingências pareciam mudar. Ora o oponente parecia deslocado, ora parecia fraco, ora sequer parecia ameaça. Ora parecia que tinha eu alguma chance. Poderia até descrevê-la como aumentando exponencialmente. E isso era formidável! Ah, era...
     Agora o jogo parecia ser importante, com chance de vitória restabelecida. Isso nunca havia me ocorrido antes. Enfim o prêmio. Que não me era qualquer um. Era a partida mais esperada de minha vida, ainda que quando a planejara não soubesse bem quem seriam os jogadores. Muito menos a honraria. Só tinha certeza de que valeria a pena.
     Minha láurea aproximava-se. Por descuido do oponente ou pelo desejo da coroa me coroar: não sei. Pouco importava, aliás. A interação entre respondentes e operantes estava funcionando em um nível indescritível por mim. Acho até que isso me atrapalhou quando precisei emitir outros operantes. Inclusive em situação de jogo.
     Apesar de tudo, descreveria, afinal, a situação como "favorável". Ouvi até alguém dizer, da plateia, que "tudo tende para ti". E isso foi forte. Era de um peso tão grande que não poderia cometer erro algum. Era como se, havendo falha, a culpa fosse minha. E apenas minha. Mas, na verdade, se não mexesse um dedo ou avançasse sem piedade, a culpa seria minha de qualquer forma. E aqui, senhores, não vos importa saber meu próximo movimento. Porque, qualquer que fosse, havia uma ilusão de controle: eu não estava no comando de nada. Não saberia dizer quem, mas poderia afirmar, quase que axiomaticamente, estava eu certo desde o começo: o galardão não seria meu.
     E a derrota não veio com um mate majestoso, muito menos um simples, o qual eu não esperasse. Nem por contagem de pontos. Sequer por infrações. Mas por tempo.
     E o tempo marcou o carro chefe de minhas derrotas. Aquela que ficará por um bom tempo como a maior partida que nunca ganhei. Ou pior: como a maior partida que quase ganhei. E como perdi? No tempo. Apesar de ter tomado várias peças importantes do jogo oponente, o tempo continuava marcando minha derrota. Na verdade, nem sei se tivesse mais tempo teria ganho. E isso não saberei nunca. Porém, sei, que quase ganhei. E isso dói. É como esperar o Sol nascer e dormir de novo quinze minutos antes. E quando acordar, vê-lo lá no topo. Que tivesse sido destruído no começo! Por que a pena? Se o contexto não é favorável, a seleção deve ser inexorável! Ela não tem pena. Não porque seja ruim. Mas porque ela só age. Ninguém culpa o vento por ventar ou um rio por fluir. São suas funções na natureza.
     Há quem fale do aprendizado nas contingências, de novo: terá valido a pena, no final. Não tenho tanta certeza. Mas, se houver, é lucro. Não estou em condições de recusar um copo d'água. Meio cheio ou meio vazio. Não importa.
     Mesmo aqui, o fim não apontou. Há quem fale de um "futuro", uma invenção quase perfeita para quem quer ser eterno. Não quero mais isso.
     Perdi, afinal. Como previa. Porém, não como esperava.

quinta-feira, 21 de agosto de 2014

A Partida

     Sabes como é iniciar um jogo de xadrez, por diversão, já de sobreaviso de que vais perder? Provavelmente, há algo costumeira e popularmente nomeado "motivação" aí: vencer alguém que quase nunca perde [ou alguém de quem antes tu nunca havias vencido] aumenta o valor reforçador de "vencer", aumentando, também a frequência do "jogar", que se resume em "tentar vencer" mais vezes. Pois é. Não vou falar disso. Vou falar de um jogo importante. Em que também não há chance de vitória.
     Há um bom tempo esperava esta partida. Mas como uma partida normal: vou jogar dando meu melhor e esperando o melhor de meu oponente. Nada mais sensato e cordial que esperar um embate à altura. Nada mais normal que preparar-me para o jogo, afinal, não conhecia o adversário. Ainda. E aqui está o perigo: não conhecer o adversário. Porém, isso é algo que foge de nosso controle. Nem sempre conhecemos aqueles com quem nos relacionamos. Nem sempre conhecemos as contingências com as quais interagir-nos-emos. Na maioria das vezes, até, aprendemos a lidar com elas apenas no contato. Regras podem não ser muito claras, visto que as contingências são desconhecidas da maioria, pelo menos inicialmente. E, quando são conhecidas, pessoas lidaram com elas a partir de seu próprio repertório, que não é meu, nem seu, nem de outros. É dela.
     Enfim, encarei o adversário. E deparo-me com a situação de que a partida está ganha. Que pena! Em favor dele. Um minuto de silêncio. Que chega a ser infinito. Quase eterno, com silêncio antes dele e depois dele. Só houve, sempre, silêncio. Algo a mais não existia. Era ilusão. Eram histórias bonitas que te contavam. Eram descrições de uma realidade nada pragmática. Eram descrições de um mundo em que tu não ouvias a história, na verdade. Tu fazias parte dela. Tu eras personagem. E tua história seria contada a outros, que também acreditariam ser aquela sua própria história. E os personagens só aumentam. O conto de fadas só ganha mais vida, parecendo, a cada momento, mais real.
     Então, meu jogo, para o qual achava que havia me preparado tão bem, estava perdido. Ou ganho pelo outro, se preferir assim, caro leitor. O copo nunca está meio vazio para quem tem sede. Já sei que a probabilidade de eu emitir respostas de tentativa serão baixas, assim como as chances de eu vencer. Na verdade, não quero sair de onde estou, agora. Quero ficar aqui, quieto. Desamparo aprendido. Não sei o que fazer, mesmo tendo vontade de que nada disso tivesse acontecido. Ainda assim fico quieto. E não tenho vontade de me expor àquelas contingências de jogo. Se melhorar, quando entrar nelas novamente, vou querer fazer nada, de novo. E isso não seria bom, acho. Esquivar-me-ei. Aqui e ali. Amanhã e depois. E se pudesse mudar o que já aconteceu, mudaria também. E se puder prever, com precisão, o amanhã, farei o possível para que não ocorra lá. Não quero. A fuga foi complicada.
     Continua. Nada tem fim em si.

terça-feira, 8 de julho de 2014

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Máxima nº 11

Os deuses [como Fors] não erram. Nossas expectativas é que são frustradas. Os incompetentes somos nós.

sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Apopthosis

Come on man I am already fine
Stupid dance with an old friend of mine
Take the rope, it’s not a perfect suicide

Plant some roses in the black backyard
Take care of them because I’ll be so far
Bring me some when I’m sleeping for long time

Hey, I’m still closer to my vision trained to define
Take a pill, spit it out, make it explode now in my mouth
Stay away, not so far, I wanna you all by my side
Forgive me, I’m so tired, I am a sacred suicide

Through my head, into my head, little mine
Keep the gun far away from myself
I'm not a sacred suicide
Apoptosis

Letra composta, para uso da Die Jokker, por Allef Rocha Marinho. Plágio é CRIME contra a propriedade intelectual.

quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

O último 31

     Feliz ano novo de 365 dias, 12 meses, 2 ou 4 estações [quem sabe, até só uma, de novo], de Eleições em Outubro, Carnaval no primeiro trimestre, Natal em Dezembro, de Aniversário no mesmo dia e de Férias no mesmo período. Feliz ano novo de notícias sobre enchentes no começo do ano e de Copa assistida pela TV, provavelmente torcendo pela Alemanha, depois "simpatizando" com a Seleção Brasileira.
     De promessas: sobre aquele livro que tu não leu, sobre a viagem d'os sonhos, sobre o novo amor, sobre passar no vestibular, sobre arrumar um emprego, sobre dedicar mais tempo à família e a si mesmo. Feliz ano novo de "vou ser mais zen", de "vou beber menos", de "serei mais gentil" e, quiçá, de pular sete ondas, de dar flores a Iemanjá ou de comer Romã! Mas que seja feliz mesmo é por tirar as mesmas fotos durante todo o "novo ano", postar nas mesmas redes sociais, para mostrar para as mesmas pessoas, que comentarão, sempre, as mesmas coisas! Que seja novo pelas mesmas decepções, com relação àquilo do que disse que nunca mais criaria expectativas. Que seja novo pela mesma Lua no céu, pela mesma chuva de cometas em Agosto. Pelo novo lançamento que te fará trocar de celular ou de PC, como no ano passado! Por acordar cedo para ir a um lugar que só te traz problemas, segundo tu mesmo.
     Enfim, Feliz Ano Novo, simplesmente, por ter a chance de ser alguém diferente. Só por isso. É a única coisa que se comemora em um simples "00:00", que aparece no teu relógio 365 [ou 366] vezes por anos. Teoricamente tu tem muitas chances de ser diferente o tempo todo. Mas escolhe o último 31 como marco. E depois o próximo último 31. Depois o seguinte. Depois morre como quando escolheu aquele 31 de alguns anos atrás e, triste, não sabe por que está triste. Na verdade, não percebe, porque também tem a possibilidade de saber o porquê, mas não se move.
     Desejo-te, então, um simples "Feliz Ano". Nada de "novo". Essa parte tu decide acrescentar ou não.

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

A realidade forsista

     Tudo pode ser qualquer coisa que queiramos. Basta sermos nós mesmos. Obviamente, o que criamos mostra um pouco de nós, logo tudo que conhecemos é criação humana. Tudo existe antes d'humano, mas nada que conhecemos existe sem nós. Só criamos porque modificamos o qu'existe já. E isso nos cria, ao mesmo tempo. Não há saída.
     Ainda que nos sintamos livres pr'alucinar qualquer coisa que pensamos estar sob nosso controle, tudo está dentro d'uma "faixa de segurança", que também é criada por nós, mas que j'existia sob outro nome. Também somos controlados, o tempo todo, sabendo ou não do controle. A liberdade que nos resta é aceitar sua inexistência e sermos felizes mesmo assim.
     Isso não significa que devemos ser passivos e falsamente felizes. Significa que existe um controle libertário, qu'admite a ilusão da liberdade, então sentimo-nos "livres", pois sabemos da verdade, e mesmo que não possamos agir sobre tudo, podemos agir sobre uma parte do todo, o que nos dá condições para q'usemos as ferramentas necessárias para chegarmos ao auto-controle. Tal controle se chama Fors. E o auto-controle advém d'ele.
     Este é o maior passo p'ra felicidade que, com'um vírus, contagia quem está perto. O qu'as pessoas não sabem, é qu'elas também aprendem a ser felizes. O contágio é aprendido. Por isso, na maior parte do tempo, não nos sentimos felizes: nos dão condições pr'aprender uma falsa felicidade, baseada n'um conceito de liberdade que não corresponde à realidade. A realidade depende d'uma série de fatores compostos por uma quase unanimidade de controle nosso impossível. Fors é essa realidade.

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Máxima Nº 10

Há algo d'errado. Na verdade, há muito errado. Tanto erro que tudo parece caminhar pelo caminho certo, afinal.

segunda-feira, 15 de julho de 2013

Necessidade de Mudança

     Um dia, estava eu a arrumar meus livros n'estante, quando percebi aquelas teias, d'aquelas aranhas domésticas, de corpo pequeno com longas e finas pernas. Parei um minuto para vê-la.
     Lá estava a dona da casa, trocando, como mostram os livros de Biologia d'Ensino Médio, seu exoesqueleto. De cara, fiquei apenas a imaginar as aulas que tivera há uns anos, e comprovando qu'aquilo acontecia realmente. E eu presenciei. Continuei arrumando os livros, deixando a aranha terminar seu trabalho.
     Depois percebi algo mais interessante que a vivência comprovada do livro.
     Aranhas vivem pouco. Pelo menos esse tipo d'aranha da qual estou a falar. E é de fazer parar para pensar sobre nós mesmos essa situação boba: vivemos, relativamente, muito tempo, se nos comparamos c'as aranhas e, aind'assim, muitos de nós não pensam em mudar-se. O mundo evolui, involui, cresce e diminui, mas muitos de nós prefere ficar como está. Como esses seres tão pequenos conseguem tirar um tempo de sua existência para mudar em uma vida tão pequena quanto seu tamanho? Como perdem tempo para mudar, se logo morrerão?
     Alguns dizem qu'elas não pensam n'isso. "Elas são 'programadas' pr'isso". O fazem e pronto. Talvez seja isso. Também. Talvez seja necessário mudar. Talvez mudar seja uma sina que recusamos. Mas, provavelmente vale a pena mudar.

quarta-feira, 22 de maio de 2013

Burnt Muse

Burnt Muse

I've never closed myself for you
In true, I've never talked to you
And in my dreams you are living to
Keep me hopeful of a cure
And living to be like a dew
Promiscuous Muse, I can't hate you

I'm running over walls for you
In true, I don't know where find you
And on my skin you are winding to
Keep me seeking something new
And winding to blow up the mure
Provider muse, I can't let you

I know a better way to bare you of your armour is bleed on
I know I've never found as faster as an eagle's often done
Oh, no, I ever said a sad word of our lives, burnt and gone
You know I never can't say never because I don't want to live alone

Letra composta, para uso da Die Jokker, por Allef Rocha Marinho. Plágio é CRIME contra a propriedade intelectual.

domingo, 14 de abril de 2013

Monólogo Nolampriano: Chaos

     Chaos é regido por Fors, que também rege Tellus, e tudo que vai a Tellus vem de Chaos, assim como tudo que vem de Tellus volta a ele.
     Chaos é a tendência natural. Dispende-se menos energia quando se volta a Chaos. O contrário acontece quando se vai a Tellus, pois n'este há concentração d'energia convertida em matéria. E, apesar d'isso, Chaos possui um fluxo d'energia constante, naturalmente equilibrado. Chaos é composto d'infinitos elementos em harmonia, mas basta q'um d'eles seja modificado p'ra qu'o fluxo seja quebrado, então a organização chaótica transforma-se n'um caos induzido, quase de natureza téllica.
     N'este fluxo ordenadamente téllico-chaótico nascem e morrem Chaos e Tellus. E Fors continua imponente.

quarta-feira, 27 de março de 2013

Monólogo Nolampriano: Introdução ao Forsismo

     Então, Nolampro, depois de quase surtar vendo tanta coisa sobre as origens de qualquer coisa, eclode-se em vipassana:
     - Sim! Como não a pude ver antes?! A Origem de toda e qualquer coisa! Ela está em dois lugares: na nossa cabeça e na Filosofia Fórsica! Ora, nossa cabeça é produto de Fors e Fors só existe na nossa cabeça! As coisas acontecem e as significamos! E os significados fazem com qu'as coisas se repitam, tornem-se partes de Tellus e eternas até que as signifiquemos novamente! E Fors deu e dá origem a Tellus! A partir d'esse momento, qualquer coisa só existe n'essa interação! Malum Fors e Bonum Fors criam Tellus e Tellus dá continuidade e abre novos caminhos p'ra Fors! Como passamos tanto tempo n'escuridão? Pior: como saímos d'escuridão sem faiscar, sequer?!".
     Nolampro sabe qu'isso é difícil de s'entender... agora.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Passante

Passante
 
Passa no vento, corre na água,
Na veia da Terra, no peito há mágoa
De quem já chorou, de quem já sofreu
Uma história vivida de Julieta e Romeu
 
Logo o Tempo passa, tão rápido Ele passa!
E quando passa o Vento, leva consigo a Graça
De um Sorriso perfeito, de um olhar sem defeito,
De uma vida singela como Cravo e Canela
 
Então, bate no peito
Uma saudade sem jeito
Que, sei, bate por Ela ...
 
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segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Máxima Nº 9

O Deus d'Acaso reina. Milhares de variáveis atuando simultaneamente, caoticamente, e nunca saberemos no qu'elas resultarão. Tudo exerce controle ao mesmo tempo e provoca mudanças pequenas que compõem mudanças maiores! O motor da vida é esse Deus-Nada. Deus-Dúvida. Assim vivemos! Assim mistificamo-nos! Assim controlamo-nos!

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Uma História d'um dia Normal I

     Hoje o dia estava nublando, antes d'eu sair pr'aula de Fisiologia. Não fazia a mínima ideia se ficaria escuro ou clarearia mais tarde. O certo é que saí de casa sem guarda-chuva e sem dinheiro, confiando-me que pegaria o Metrô de ida e o Ônibus da faculdade de volta.
     Cheguei ao Metrô, que deveria abrir às 8:00, e esperei. Esperei até 8:10, então perguntei ao segurança: "Vai abrir mais tarde hoje?". Ele: "Só dia 7!". Inconformado, respondi: "É... não vou esperar, não".
     Sem dinheiro ou coragem de voltar à casa para pegar R$1,00 p'ra passagem [Um cúmulo, aliás! S'esforçar p'ra dar dinheiro às grandes empresas?], fui a pé. Com o pé doído, diga-se de passagem. Doído d'um jogo que não sei jogar, mas que é divertido, mesm'assim.
     Então o tempo fechou de vez. O que não é de todo ruim! Na verdade, o que há de ruim n'isso, hein? Tomei um belo banho de chuva, o qual não tomava há tempos! Todo mundo s'escondendo debaixo d'alguma sacada, dentro dos comércios ou em qualquer mínimo espaço coberto, e eu lá: andando, feliz, m'imcorporando à chuva e ela a mim... Perfeita homeostase! Ela me molha e eu deixando ela me molhar! Melhor só se chovesse mais!
     Cheguei à aula e sequei ao belo vento d'um ar-condicionado [um ar que sofreu modificação de comportamento. {?} Piada sem graça.]. Frio. Artificial. Mas frio. E a aula foi um porre. Ora! É Fisiologia!
     Termina a aula e espero o Ônibus da Faculdade por mais d'uma hora. Então fico sabendo da bela notícia qu'o Ônibus não viria hoje. O bom é que tenho obrigação d'estar em aula do dia 2 de Janeiro e eles não tem o bom senso de nos fornecer um transporte! Meus amigos me pagaram a passagem inteira de volta n'ônibus coletivo, já que nem a carteira d'estudante levei.
     Cheguei a meu destino. Almocei em casa. Voltei à faculdade [não teve aula. Professores ainda afetados pelo Révillon, provavelmente], então fui conversar com alguns outros amigos. No meio da conversa pensei: "E pela manhã me preocupava se sairia ou não d'óculos escuros...".

domingo, 7 de outubro de 2012

Máxima Nº 8

     Um dos maiores benefícios de se acreditar em deuses é que, se tudo der errado na tua vida, tu tens em quem pôr a culpa. Caso contrário, a culpa é toda tua.

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Conclusões de um Monólogo de 2 Anos e 3 Meses

         Bem, poderíamos começar o presente texto anunciando um novo método para não sentirmo-nos tão infelizes. Mas como, muito provavelmente, um método desses nunca existirá, sinto-me aliviado por não carregar a responsabilidade de escrever tal texto nem culpado por não escrevê-lo. Falemos de sentimentos. Por mais batido e clichê que esse assunto possa parecer, ele ainda rende muitas histórias, assim como rendeu e renderá até o fim da nossa existência, primatas sentimentais.

Talvez alguém que se atreva a ler o início deste texto pense: “Mas que besteira! Lá vai mais um falar de coisas que todo mundo sente, coisas que todo mundo já sabe o que é, coisas que não têm importância! Mais um querendo ser o dono da verdade, mostrando como as pessoas agem, como se ele não agisse de tal forma, porque se acha superior e inafetável por aquilo que o próprio descreve!”.
Bom seria se esse tipo de gente existisse: alguém totalmente inafetável pelas ações normais, alguém totalmente imparcial. Mas como esse “alguém” não existe, sinto-me obrigado, hoje, a falar da fonte mais segura de certos sentimentos que conheço [ou julgo conhecer, pelo menos]: Eu.
Retirado de: http://psicologiaviva.wordpress.com/
Começo admitindo um dos meus maiores defeitos [ou virtude?]: apego-me ligeiramente fácil a algumas pessoas. Ou simplesmente passo algumas semanas me dando bem com alguém e depois meio que “tudo perde a graça”. Talvez isso seja, em partes, culpa das ferramentas tecnológicas das quais usufruímos, de onde conhecemos pessoas com as quais começamos a falar, fazer piadas e contar segredos. Depois conhecemos mais gente, então os mais antigos viram apenas arquivo. Talvez seja, em outras partes, culpa do meu próprio comportamento. O certo é que isso já me aconteceu algumas vezes e, sinceramente, não gosto de mim quando passo por isso. A parte boa dessa história é que de quem não se perde a graça acabo virando amigo de verdade. Um amigo a mais que seja! Lucro!
Amigos são realmente importantes na formação das nossas personalidades, e isso deve ser uma das coisas que todo mundo já sabe. Porém, algo que engana muita gente é que “só amigos bastam”. Quando falo amigos, incluo a família, já que penso que se não tivessem “inventado” a instituição “família” todos seriam amigos do mesmo jeito [na verdade, mais amigos. Amigos de verdade, sem a ideia que mãe é superior ao filho ou que devemos respeitar nossos irmãos porque eles vieram do mesmo útero que a gente. Amigos por real consideração].
Como só amigos não bastam, é chegado um momento na vida de uma pessoa que ela quer algo a mais. Algo que os amigos não conseguem dar [“não conseguem” não implica deficiência, porque o que eles oferecem é diferente. Seu papel é outro]. Então o humano percebe que precisa de amor. Não amor parental, fraternal, animal, mas sim um amor que, até então, só se ouviu falar. Um amor que nem se sabe de sua veracidade nem de sua possível intensidade. Bem, nosso problema, em geral, é que não sabemos quando estamos prontos para isso, se estamos certos disso ou se isso realmente existe. O certo é que temos medo. Ah, o medo sempre é certo! Se existe um “sentimento” que descrevemos quase que perfeitamente, ele se chama medo. Não é à toa que ele nos acompanhou durante toda nossa evolução, e ainda permanece.
Então se conseguimos descrever o medo “quase que perfeitamente”, porque ele é um “sentimento natural”, por que não sabemos ao certo quando estamos amando? Não seria o amor, também, um sentimento natural? Desde quando o “amor” acompanha nossa espécie? Bom, isso seria objeto de um estudo mais aprofundado, o que não tenho, agora, a mínima paciência ou vontade para começar. Que isso se torne um plano concretizado, se possível, no futuro, não muito distante, de preferência.
Ouvimos pessoas falando sobre sentimentos diariamente. O problema é que “será que elas estão sentido isso mesmo”? Não estariam elas descrevendo erroneamente o que sentem? O comportamento verbal tem dessas peças a pregar. Se tu nunca sentiste vergonha de verdade, então ouves alguém dizendo que está com vergonha, ao passo que descreve tal sentimento como horrível, constrangedor e paralisante, quando te sentires horrorizado, constrangido e paralisado estará também condicionado a dizer que estás com vergonha. Mas será que vergonha é isso tudo mesmo?
A má descrição do “sentimentos” pode nos atrapalhar em uma provável autoavaliação: estou com medo ou estou envergonhado? Estou odiando ou estou chateado? Estou simplesmente gostando de alguém ou estou amando esse alguém?
Tirinha do cartunista Orlandeli.
Venho percebendo [desculpem-me por usar minhas experiências de observação de terceiros] que algumas pessoas se escondem dentro de uma dura carapaça, pois são, na verdade, indefesas lesmas. Sua carapaça não faz parte de si, mas se tornou quase que essencial para se manter uma imagem zelada. Preparada. Usurpada. Falseada.
Negar-se para se manter no meio? Porque não choras na frente de todo mundo? Porque não dizes quão ridículo é estar no meio? Pois sei que não gostas de estar lá, na verdade... Tu querias apenas poder chorar quieta, fazendo todo mundo entender que estás sofrendo de verdade! Mas o sentido e os sentimentos são falseados. Olhar-te-ão e dirão: “Chora mas não sabe bem o porquê! Isso é frescura”. Talvez encontramos a razão para tantos sentimentos usurpados ou simplesmente negados.
Admito, até certo ponto [e talvez eu mesmo esteja negando algo supracitado], que ando passando por uma situação confusa.
Quando junto aquele meu defeito/aquela minha virtude com uma situação prática, não sei bem o que sinto. Para ser mais preciso, penso que sinto algo por alguém [A: Talvez seja só atração... – B: Talvez não seja só atração!]. De certo modo, sinto-me apegado a esse alguém. Esse alguém me faz algo, que talvez ele nem perceba que me faz mal. Então sinto algo que, novamente, não consigo explicar. Fico confuso. Então escrevo um texto tentando entender porque sou assim, ao passo que tento explicar a mim mesmo algumas possíveis razões para esse comportamento. Odiável, diga-se de passagem.
Espero que isso aconteça com mais gente, caso contrário precisarei de algumas terapias. Longas terapias, aliás...
Penso que perdi o fio da meada. Olho para cima, esperando alguma resposta. E é óbvio que a resposta não vem! Se viesse o texto perderia a graça e o sentido! O apelo. O desespero. O certo é que o maldito fio tece boas histórias para nossas vidas. Histórias que se perpetuam, aliás, pois o fio nunca acaba, e acaba que ele serve para mais gente como a gente.
É. No fundo nós, primatas autointitulados inteligentes, somos tão iguais quanto todos da nossa espécie. E sabemos disso. Mas temos um forte sentimento, desejo de singularidade, o qual nos faz pensar que ser igual a outros como a gente é ruim. E talvez seja. Quem sabe? Mas quanto mais diferentes queremos ser, mais parecidos somos uns com os outros, o que nos torna membros de uma sociedade doentia. E penso que a tal singularidade de que falo nos faz, de certo modo, diferentes, mas tão diferentes que às vezes nos confundimos, saudavelmente, pois ter quem nos entenda é importante.
E é aqui que aparece aquela pessoa que não te dará amor parental, fraternal ou animal. Ela será diferente de ti, mas tentará te compreender como se tentasse o auto entendimento. Mas também é aqui que aparecem as dúvidas, as certezas não confirmadas e, muito provavelmente, algo parecido com o medo de tentar.
O engraçado é que mesmo depois de tentarmos e acharmos que deu certo, as lesmas nos aparecem com suas duras carapaças, novamente!
Volto a falar de comportamentos.
Sou uma prova do que falo, mas também falo que vi isso em outras pessoas. E realmente me impressionei.
Tu tens uma primeira experiência emotiva com alguém. Não necessariamente relações sexuais. Um relacionamento, inicialmente, apaixonado, apaixonante [lembrando que eu mesmo posso não saber bem o que sinto, mas tenho uma ideia. A: Talvez seja só atração... – B: Talvez não seja só atração!]. Então tu tens boas experiências nesse relacionamento. Porém tu acabas com ele. Pouco tempo depois, tu inicias outro relacionamento com um outro alguém. Prestaste atenção que é difícil não agir de forma que lembre o relacionamento passado? Muitas vezes os “sentimentos” são parecidos, a tua vontade do outro é parecida, até os erros são parecidos. E mesmo que tu passes dois anos e três meses sem ninguém, toda a filosofia, toda a psicologia, todo teu pensamento a respeito de relacionamentos, criado durante esse tempo, não vale nada, em um primeiro instante. Tu estarás condicionado a agir de uma maneira que lembre respostas emitidas a contingências passadas parecidas com as que tu estás vivendo, visando, meio que inconscientemente, o melhor resultado possível, que é algo parecido com o que tu já viveste, pois é um resultado conhecido e se, no mínimo, for parecido com o que tu já viveste, tendo um resultado que te favoreça na situação, sentir-te-á mais seguro para agir daquela forma quantas vezes for necessário. Conveniente.
http://www.luzes.org/conteudo.php?ar=3&a=121&Cod=136
Como já disse, isso também acontece inicialmente. Depois vemos que certos comportamentos entram em extinção [muito provavelmente, não todos], já que em relacionamentos diferentes temos contingências diferentes. E, não necessariamente, no tal “primeiro instante”, se agirá como se agiu no passado, tendo como base do comportamento contingências parecidas e consequências reforçadoras. A cognição criativa de cada um cuidará da emissão de novas respostas para novas contingências ou, quem sabe, mesmo para contingências que lembrem as passadas. Ainda assim, acredito que seja mais fácil um comportamento passado voltar a ser emitido em uma situação S presente, desde que ela te lembre estados internos, subprodutos de comportamentos, “sentimentos” vividos no passado, e desde que o emissor considere tais subprodutos “bons para ele”, reforçadores. Como quando uma das lesmas com carapaças tem a carapaça quebrada: ela se torna um animal diferente. E vemos isso em seus olhos! Provavelmente outras pessoas danificaram sua carapaça no passado, logo penso que a lesma não agiu tão diferentemente de quando estive com ela. Assim, a meu ver, relacionamentos que podem oferecer um amor diferente daquele que os amigos oferecem sempre começam de um modo parecido. Volto a dizer que falo de experiências minhas. Mas também já bastam tentativas comportamentais de explicação!
O certo é que cada um de nós deve tentar quebrar o máximo de carapaças, tantas quanto forem possíveis! Paradoxalmente, esse recado também se estende às lesmas. Sim, elas têm poder, ainda que encarapaçadas, pois elas podem simplesmente decidir deixar suas carapaças de lado, um dia! Quão adoráveis podem ser as lesmas, esses bichinhos úmidos e nojentos, sem suas carapaças?
Chore! E faça com que os outros chorem! Ria! E faça com que os outros riam! Sofra! E faça com que os outros percebam a necessidade do sofrimento, para que não tenham medo de errar e de sofrer! E mesmo que te digam: “Isso não vai prestar”, deves ter a consciência de que aquilo pode não prestar, realmente, e que fazes aquilo por amor à vida! Porque tens vontade de viver e de conhecer o máximo de sensações enquanto estiver vivo, para ter histórias para contar a teus filhos, que serão teus amigos e dever-te-ão respeito não porque tu és pai deles, mas porque eles perceberam que tu mereces respeito!
Assim podemos reconstruir mais um conceito: o de família. Ou acabar com ele de uma vez! E incrementar aquele de amizade! Ao passo que o conceito de amor... bem, esse continuará difícil de conceituarmos, eternamente. Então apenas vivamos o que achamos o que ele simplesmente é! Antes viver um amor que tu criaste que viver amor nenhum.

Gostaria de explicar que a figura do Id, Ego e Super-Ego
tem caráter meramente ilustrativo, já que tendo mais,
no decorrer do texto, a uma abordagem Comportamental.

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Máxima Nº 7

Imagem retirada de: http://amaivos.uol.com.br/amaivos09
/noticia/noticia.asp?cod_noticia=11553&cod_canal=67
     Nada é tão bom que não pensaríamos que poderia ser melhor. Nada é tão ruim que, se tivéssemos uma segunda chance, não repetiríamos. A Vida, o que é este paradoxo?

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Diálogo Nolampriano II: Humanidade pós-Morte

     Nolampro, n'aula de Filosofia, pergunta para a professora:
     - Professora, quais as características de um ser-humano?
     Ela responde:
     - Bem, o ser-humano é isso que somos! Nascemos, crescemos, tornamo-nos felizes, tristes, decepcionados, crentes, ateus, crentes novamente e, por fim, morremos. Um ser-humano tem todas essas características!
     Nolampro pensa alto:
     - Posso, então dizer que não sou humano?
     A professora acha estranha a pergunta e retruca:
     - Por quê poderia dizê-lo?
     Nolampro explica:
     - Se os seres-humanos possuem todas essas características, o termo "ser-humano" incorpora todas elas. Sendo assim, como não morremos ainda, também não somos humanos. O ser-humano se completa com a morte, pois, assim, a vida destinada a esses seres tão magníficos e controversos chega ao ponto final, onde se torna humano. Como se a cada dia que passa tornamo-nos mais humanos, e o ápice dessa metamorfose culmina com nossa morte, com o momento quando atingimos a humanidade plena. Logo, a humanidade de uma pessoa depende de sua morte, essenciamente, não podendo nenhuma pessoa dizer que é humana, e sim que um dia se tornará ou que alguém se tornou, mas estes não habitam o mesmo lugar que nós, pré-humanos, pois a humanidade é um estado único, que não pode ser forjado por simples organismos viventes cheios de ciências para explicar o que, na verdade, não necessita explicação.

quinta-feira, 12 de julho de 2012

Máxima Nº 6

Existem três modos de se atuar: ao fazer o que tu queres, ao fazer o que querem que tu faças e ao fazer o que mandam tu fazeres. Resta-nos decidir como reproduzir o próximo ato.

terça-feira, 26 de junho de 2012

Canción para Paulette

El Joven dice:
-Perdido en las profundidades de este espejo
Veo pasar la vida como una película antigua
Borrosa por un líquido bermejo
Siendo protagonizada por una vieja amiga.

Yo invoco las almas de los amados perdidos,
Que el Presente ha jugado en los olvidados mares.
Y el pasado de los sentimientos heridos
Ahora dame buena imagen de mis padres.

Atascado en la transitoriedad como un trueno,
Siento la vida como una enorme prisión.
De dónde algunos corren por el vino-veneno
Sin dejarse intimidar por la voluntad de su misíon!

¡Oh, orugas efímeras y gloriosas,
Que se encierram para vivir!
Por que usted tiene alas tan mimosas
Si el Tiempo preocupase de las destruir?

-Vamos, Espejo amigo! ¡Muéstrame un poco más!
Muéstrame más lo que yo dejé atrás!

Muéstrame ahora, mis sueños de infancia,
Para que pueda salir del espejo en paz.
Muéstrame cómo la vida es esperanza
Y cuanta falta haceme en mí triste faz...

Trovador dice:
-Y por la noche, al salir de la bohemia,
Lleva con él su alma incubada,
Propagando la confusión y la epidemia,
Ilustrado con el sonar de una sonata.

Una sonata jugado muy feliz.
Tan feliz que toda la tierra brilla!
Una sonata de escalas que dice:
"Una galante canción por la Bella Villa".

Después de salir del fondo del espejo,
De ver la vida como una película antigua
Él va a domir feliz, pero perplejo
El hombre de ver a su vieja amiga...
  
Poema dedicado a Lett, que por alguna razón, me motivó a hacer una
versión de "El poema Rechazado" en español. Pero, ¿quién dijo que las
cosas tienen una razón para hacerlas? Sólo se siente! Y esto es para ti!

No haga caso de los errores.

sábado, 16 de junho de 2012

Praga Humana

     O ser-humano possui infinitos defeitos. Um deles é querer se colocar no centro de tudo. Tudo que há na Terra é para o homem. O homem manda em tudo! E, na realidade, sabemos, no fundo, que não é bem assim...
     De certo modo, concordo que o homem deve importar-se com seus semelhantes e valorizar toda essa cultura que nosso povo contruiu, e continua construindo, ao longo de séculos. De certo modo concordo com esse tipo de antropocentrismo. Mas se repararmos bem, exageraram um pouco no termo. Certo dia estávamos uns amigos da faculdade e eu conversando sobre diversas coisas interessantes. Chegamos no assunto "religiões", o que é quase inevitável ao se conversar cobre coisas aleatórias. Um deles falou, não sei se esse pensamento era dele ou não, mas achei interessante e o estou aproveitando aqui para promovermos discursões e pensamentos úteis: "O homem tirou os deuses do centro e pôs o próprio homem". Isso significa que tiramos algo empiricamente imaginário do poder e pusemos "gente" nesse lugar de prestígio. Enquanto os deuses estavam no poder, todos temiam a algo teoricamente maior, não a algo igualmente imperfeito como o homem.
     Costumo dizer que um jumento nos pode julgar, mas outro ser-humano não o pode. Logo alguns dizem: "Mas não se pode julgar sem se conhecer, e um jumento não conhece o ser humano". Então retruco: "Qualquer um pode julgar o ser-humano, menos o ser humano, pois, na essência, somos todos iguais. Se um mata, podemos matar também. Se um rouba, podemos roubar também. Tudo depende das contingências". Acho hipocrisia demais para uma só espécie julgar seus semelhantes. Quando se julga, julga-se a si mesmo. Qualquer atitude humana, qualquer mesmo, boas, ruins, está ao alcance de qualquer um de nós, logo, dependendo da situação, podemos praticá-la ou não. Diz que é pecado matar. Mas algum dia podemos precisar fazer isso. Agora os motivos não importam. Se foi por legítima defesa ou por causas fúteis: é morte, o sangue é vermelho do mesmo jeito. Isso porque entram, nesse momento, as morais de cada um e a ética que nos é imposta, o que é diferente ao redor do mundo, logo não podemos analisar.
     Nossa espécie passou vários anos negando sua animalidade, mas houve um dia em que os humanos foram classificados como primatas, não muito distante dos nossos "primos" macacos, orangotangos e gorilas. Particularmente, desculpem-me o que direi, mas é isso o que acontece: ultimamente não consigo olhar para as pessoas e não ver primatas. Não consigo não comparar com macacos! Orangotangos! Gorilas! Alguns são mais parecidos com outros primatas, mas todos primatas! Que não têm o direito de se pôr no centro de nada!
     A negação de que somos "Iguais" a todos os outros animais, que vivemos no mesmo planeta, portanto temos direito às mesmas coisas que os outros animais têm, e eles deveriam ter direito às coisas que temos, já que tudo foi tirado do mesmo lugar, essa negação é o que nos diferencia dos outros bixos. Certo, somos diferentes de todos os outros animais. Mas elefantes também são diferentes de todos os outros animais. Cães são diferentes de todos os outros animais. Ratos são diferentes de todos os outros animais! Então, como fica?
     Naquele mesmo dia da conversa com meus amigos da faculdade, um falou: "As pessoas são uma praga", no sentido de que pessoas não prestam, que são irritantes e odiáveis. Sim, elas são assim. Mas pesnsei um pouco além, apesar de um além que qualquer um poderia ter chegado, se quisesse: devemos ser pragas, sim! E no sentido o qual os pecuaristas dão para gafanhotos e para moscas d'África. Vejamos a definição de praga no Dicionário Aurélio: "[Lat. plaga.] sf. 1. Imprecação de males contra alguém ou algo; maldição. 2. Grande desgraça; calamidade. 3. Fig. Pessoa ou coisa importuna, desagradável. 4. Nome comum a insetos e/ou doenças por eles provocadas, que atacam plantas e animais". Achou parecida com alguém a definição? Pois é. Imprecamos males contra todos os outros habitantes da Terra, inclusive contra nós mesmos. Fazemos desgraças e calamidades o tempo todo. Somos importunos e desagradáveis, ora, chegamos depois que todos os outros já haviam chegado aqui, por que somos tão merecidos e acomodados? Não somos insetos, mas lembre-se que o Aurélio foi escrito por um humano, mas isso não apaga que provocamos doenças e atacamos plantas e animais.
Gráfico meramente ilustrativo.

     É óbvio que podemos ser a grande praga que faz nosso planeta tanto sofrer! Só não queremos admitir isso porque, enfim, nós cunhamos o termo "praga" para designar outros animais. Veja: uma espécie que passou toda sua existência com uma população praticamente "estável" até o século XVII e, de repente, cresce assustadoramente, ultrapassando os 7 bilhões de indivíduos. E isso tudo em menos de 350 anos! E se levarmos em consideração o potencial reprodutivo de nossa espécie em condições naturais, o que aconteceu foi uma aberração induzida pelas aberrações! Nunca deveríamos ter chegado a esse número! E provavelmente, não serão com ações "Humanitárias" que sairemos dele...
     Não sejamos tão cheios de si, humanos. Somos apenas mais um bando de animais vagando por este planeta, sem saber pr'onde vamos, em um tempo muito curto de vida. Curto, porém com alto potencial destrutivo. Podemos emanar desgraças que duram milhões de anos. Aliás, é sempre isso que o homem quer fazer: deixar sua marca. Só que ele não percebe que pode não haver mais ninguém para admirá-la no futuro.

segunda-feira, 4 de junho de 2012

Máxima Nº 5


A maior fraqueza do homem é achar que ele não tem fraquezas, e a da humanindade é ela achar que é superior a tudo...


 

 

Imagem de: http://candidoneto.blogspot.com.br/2010/01/divulgados-os-nomeados-dos-servidores.html

sábado, 31 de março de 2012

Máxima Nº 4

E o maior valor que podemos ter é não ter valor algum, pois somos obrigados a criar novas ideias...

sábado, 24 de março de 2012

Diálogo Nolampriano I

     Dúvidas são coisas interessantes. Proporcionam-te um pensar racional. De verdade. Até por que existem formas de pensar totalmente irracionais. Isso depende do ponto de vista e a quem venha interessar tais formas de pensar. Mas isso não é assunto para este momento.
     Nolampro era um rapaz muito curioso. Ele tinha muitas perguntas sobre tudo. E sabia que a maioria delas ficaria sem resposta ou explicação convincente. É como Wittgenstein dizia: "Sentimos que, mesmo depois de serem respondidas todas as questões científicas possíveis, os problemas da vida permanecem completamente intactos". E são justamente esses problemas os quais precisamos mais urgentemente de respostas. Ora, quem deseja saber como o universo surgiu? Muitos. Conhecimento inútil. Quem deseja saber se deuses existem? Muitos. Conhecimento inútil. Acreditar já basta. Fique feliz com sua auto-aceitação. Ela é que te convém, portanto é a única que te importa.
     Agora há uma pergunta que, se tivesse resposta, não seria um conhecimento tão inútil: para onde vamos? Bem, para muitos pode parecer mais uma pergunta sem resposta como outras mais. Na verdade, sem respostas não. Sem explicação convincente, talvez. Respostas para essa pergunta é só o que existem. E Nolampro não era fisgado por nenhuma delas. Não se sabe ao certo se era vergonha a razão para que nenhuma dessas respostas lhe satisfizesse. Ou se era de sua natureza não acreditar em alguma delas. Existe disso. Simplesmente não entra. Se bem que dizem que o sábio é aquele que sempre duvida. O idiota é o que tem certeza da maioria das coisas e o sensato reflete sobre. Porém poderíamos pensar de maneira diferente aqui, até por que o importante é pensarmos diferente e apresentar argumentos para que nossa hipótese não seja xula aos olhos da maioria.
     Pensemos. Bom mesmo seria ser sensato. Nem tolo nem sábio. Ser tolo deve ser horrível. Ser simplemeste massa de manipulação não é uma coisa muito boa. E ser sábio, no sentido que Aristóteles nos apresentou, deve ser uma perseguição sem fim e doída. Imagines! Duvidar de tudo! Não ter, sequer uma certeza tua! Sim, pois as certezas devem ser nossas, não as que os outros nos apresentam. Às vezes acontecem de outras pessoas terem as mesmas certezas que temos. Daí Nolampro pode ficar mais tranquilo. Se outras pessoas além dele pensaram igual, ou de forma análoga, a resposta não será tão idiota quanto as pessoas que sempre têm certeza de outra maneira e os que sempre duvidam pensam.
     Nolampro era mesmo uma mente brilhante. Faltava-lhe incentivo. Aliás, ter incentivo no mundo onde vivemos é meio difícil mesmo. Não é culpa de Nolampro viver nessa era. Mas ele pode pensar. E pensar o quanto quiser, sem preocupar-se com as respostas prontas dos outros. Caso ele esteja errado, verá e aceitará, como deve ser. Já que a vida não é feita de certeza plenas, um dia, aquilo no que mais acreditamos pode ser destruído. E será difícil de tirarmos aquilo da cabeça. É como se alguém tivesse morrido. Disseram-te que acabou, mas tua cabeça não aceita imediatamente. Mas Cronos cuida disso. Como costuma cuidar de tudo que não ajudou a construir.
     É esse excesso de racionalidade que nos leva ao fundo do poço. É por isso que a nossa sociedade é a mais fracassada que este mundo já suportou. Esta é uma certeza minha e de Nolampro. Se é uma certeza de nós dois, deve haver mais gente que pensa da mesma maneira, logo não estamos pensando uma besteira plena. Nossa sociedade tem, sim, esse quê de fracassada. Queremos sempre ser as vítimas das histórias, como se ser vítima ajudasse em algo. Na verdade, aprendemos e estamos condicionados a dar apoio às vítimas. De certo modo, isso é uma estratégia de sobrevivência que se instaurou no nosso inconsciente. Quem nunca pensou em ser vítima, ou pensou que era a vítima, pelo menos para se ver mais livre ou menos culpado de uma situação? Pois é. Eu sei disso. Nolampro sabe. Tu sabes. Assim adoramos nossas neuroses. Não queremos tratá-las. Quase que as cultivamos, em determinado momento. Tudo para continuarmos sendo vítimas. Mas vítimas de quê? De quem? De nós mesmos? Talvez. E se mais gente pensou que nós somos nossos próprios vilões, dou graças. Não pensei besteira.
     Nolampro tem medo de morrer. Medo louco. É quase uma doença. Karma maldito. Posso até dizer que é uma caso de tanatofobia. Ele realmente fica descontrolado com isso. Porquê? Por que ele tem certeza disso. Uma das poucas certezas que ele tem é a que vai morrer. Que será inútil um dia. Que vai deixar de produzir conhecimento. Que será esquecido como muitos já foram. Tantos que nem me lembro. Será um nada no meio de tudo. Não terá consciência disso no momento oportuno, mas tem consciência disso no momento errado.
     Ora, a nossa consciência é, por vezes, nossa melhor amiga. Por outras, o nosso maior pesadelo, a maior desgraça que poderia ter acontecido com uma espécie viva. É. Somos um bando de desgraçados. Ou não. Isso vai depender de quem quer ser vítima ou felizardo. Saber que morreremos é triste. Realmente triste. Nolampro sabe bem disso. E eu mais que ele. Mas há pessoas que têm consciência disso e são totalmente coniventes. Ora, não dá para lutar contra. Não dá para correr e dizer "nem me pega". Seria mais divertido assim. Mas, simplesmente, não dá. A aceitação é nossa única saída. E que sejam os deuses invenções humanas. Essas invenções nos ajudam muito a aceitar tudo isso. Há muitas coisas belas na vida. Uma delas é inventar uma mentira, apoiar-se nela e conseguir viver bem. Talvez estamos fazendo isso. Talvez não. Mas todo mundo tem um apoio como esse. Inexistente, porém eficaz.
     Não estou a discutir a existência de seres transcendentais. Estou a falar que mentiras podem ser coisas boas. Se elas te convirem, são realmente boas. Acredites no que quiseres. Se te confortar, é válido. É aqui que precisamos ser menos racionais. Na verdade, é aqui que devemos deixar de ser sábios ou tolos e começarmos a ser sensatos, pois é isso que nos diferencia dos outros animais: a capacidade de sermos sensatos. Não a capacidade de sermos racionais, de construir prédios gigantes ou de projetarmos bombas que podem destruir todo o planeta, mas sim a capacidade se sermos sensatos. Mas há quem pense que a diferença entre um homem e um macaco é o nível de negação. Somos os único que negamos a realidade e negamos o que somos. Talvez a mescla da sensatez e da negação definam a nossa espécie.
     Tudo continuará como é. Nada será mudado, pois. As certezas que temos continuarão as mesmas, mas as dúvidas só tendem a aumentar. E de todas as certezas que Nolampro queria ter, duas são mais importantes: que a vida fosse bela e que a morte fosse mansa.

terça-feira, 20 de março de 2012

Máxima Nº 3

Torna-te tão forte quanto pensas que precisas ser, mas verás, no final, que ainda assim foi pouco...

sábado, 17 de março de 2012

Sopro

Temos centenas de ideais a seguir.
Temos muito mesmo do que ainda rir.
Temos uma vida fútil pela frente,
Com controle algum da nossa pobre mente,
Sem saber ao certo onde queremos ir,
Mas loucos para saber onde parar.
Uma vida inteira para desistir,
Saber que nunca será errado errar,
Fazer o que a cabeça nossa mandar
Andar, chegar, entrar, te ver e te amar.
Calma, senão assim vai me faltar ar!

E quando paro para pensar um pouco,
Vem à mente um filme mudo, preto e branco,
Com personagens conhecidos, tampouco,
Prontos a pular da beira d'um barranco,
Tão profundo que mal vejo o chão no fim.
Tão escuro, porém vejo mesmo assim,
A solução, tão mórbida e desejada
Pelas almas, pelo mundo rejeitada,
Mas que é nossa única certeza, enfim.

Vivamos o tal maldito e triste filme
Sem esquecer, nunca, a hora de cantar.
Adeus ao belo sopro que conduziu-me
Até as luzes da sala eu apagar.

quarta-feira, 14 de março de 2012

Sonnenaufgang für Sie!

     Essa postagem tem um dono. Na verdade, uma dona. Gabriela Lemos de Castro. Alguém que consegue ler o que posto aqui, por isso ela merece (claro que não é por isso, mas é que, de vez em quando, tento pôr um viés mais engraçado nas coisas. Dificilmente consigo)!
     Estava voltando de Canindé para Fortaleza, de madrugada, quando lembrei de parte de "Uma prostituta chamada Brasil" que Ela colocou no seu status: "E aqueles que levantam sempre cedo, não se desamimem! Vocês sempre vêem o nascer do Sol!".
     Apesar d'ela ser acostumada com os Nasceres de Sol das já desbravadas madrugadas, do Sol nascer para todos, neste dia, Ele nasceu pra Ela. Neste dia, Ele foi pra Ela. Das ist ein Sonnenaufgang für Sie!

domingo, 11 de março de 2012

Uma prostituta chamada Brasil


     Era século XV. Uma certo europeu decidiu ganhar a vida explorando os outros. De certo modo, deu certo. Foram mais de três séculos comendo do bom e do melhor, tudo às custas de uma bela donzela tropical. Donzela por que ele queria que assim fosse chamada, mas, na verdade, ela era uma guerreira. Foram tempos, realmente, difíceis para a bela dos trópicos. Assim os tempos continuam a ser, porém por outras razões. Pobre prostituta...
     Primeiro teve que aguentar os piores tipos entrando na sua casa, sem prévio aviso e sem sua permissão. Ainda assim foi receptiva com os maus sujeitos.
     Depois teve que mostrar aos maus-caráteres a casa toda: onde escondia ela toda sua riqueza, onde guardava ela toda a sua comida, toda a sua rotina e ainda dar satisfações para uns homens estranhos, que andavam com uma cruz na mão. Estes não entendiam por que todos naquela casa andavam nus. Não entender era o de menos. Eles adoravam aquilo tudo. O tal pecado da carne cometido com pura inocência. Seria pecado ser inocente? Parece-me que sim. E aos anfitriões isso se tornou uma certeza.
     A dona da casa, humilde, não tinha muito a oferecer aos Invasores do Além-Mar. Mostrou-lhes uma planta, muito bonita, cheia de espinhos, que, quando tinha sua casca cozida, soltava uma linda cor encarnada. Como os alienes foram lá para tirar lucro, fosse como fosse, decidiram levar o máximo de toras da tal planta que os fosse, ainda, possível.
     A pobre dama ainda teve seu filhos presos, espancados, explorados estuprados e, muitos, mortos. Tau atuara ali. Pensava ela quais perversidades teria feito para merecer tal castigo. Melhor mesmo era aceitar. Coisas de "deus" não se discute, diziam os navegantes da cruz vermelha.
     Como se já não fosse o bastante, os filhos que sobreviveram foram rejeitados, depois, pelos malditos. Houve certo alívio. Seus filhos eram novamente seus. Mas um outro tipo estranho, nunca antes visto por aquelas bandas, foi trazido pelos homens brancos. Eram uns homens de pele mais escura, de cabelos enrolados. A pobre dona mal saíra de um desespero já estava a entrar em outro. Aquele povo novo estava sofrendo até mais que seus próprios filhos. Impotente, a dona da casa teve que ficar calada. Por um bom tempo calada.
     Apesar da aparente folga dada pelos invasores a seus filhos, ela não foi tão grande. Muito menos convincente. Sofriam os de pele escura e sofriam os de pele vermelha. De vez em quando os de pele vermelha sofriam até mais, pois como não eram comumente trocados por uns cunhados de ouro eram exterminados à medida que os de pele clara invaginavam-se na casa da senhora.
     Explorada, estuprada e mal-tratada, a senhora tropical toma uma decisão: expulsar aquele povo que só trouxe maldição, até então, era a melhor solução.
     Estranho mesmo foi um deles querer ajudar a senhora. Aquilo lhe cheirava mal.
     Os homens de pele clara deixaram de mandar na casa da senhora, mas um homem de pele clara apenas continuou mandando em tudo. E ainda usava um ridículo apetrecho na cabeça. Parece que aquilo lhe dava mais poder. Idiotamente lhe dava mais poder.
     Depois desse pele clara ficar mandando em tudo, houve mais uns tempos de desespero. Um desespero até acalmante, apesar da situação sua e de seus filhos estar estagnada. Estagnada negativamente. Mas, pelo menos, estava estagnada.
     Vieram mais homens brancos. Agora todos falavam de um modo estranho. Uns diziam Vielen Danke, outros respondiam Grazie. Havia, ainda, quem falasse um Arigatou Gozaimasu! Estes até pareciam com os filhos da dona da casa, mas tinham uma pele amarelada. Besteira. Todos sofrem igualmente.
     Os homens de apetrecho ridículo na cabeça saíram de cena. Entraram uns que usavam uma faixa verde-amarela no peito. Que ainda lhes parecia conferir um poder. E continuava sendo um apetrecho ridículo.
     Com eles nada melhorou. Houve até um baixinho, cheio de si, que depois se matou, pensando em ser o salvador da pátria.
     Faixa vai e faixa vem, ela acabou nas mãos de uns homens que seguravam armas. Acho que foi por isso que enquanto eles tinham a faixa todo mundo tinham medo. De vem em quando apareciam uns filhos da pobre senhora contestando tudo, mas eram torturado ou mortos. Ou torturados e mortos.
     Porém, houve um tempo em que as coisas pareciam ter mudado. A faixa continuava a ser algo importante, o que não deixava a senhora, já velha, quieta. Estava ela certa. Nada mudou desde o tempo que aqueles homens de pele clara, que usavam uma cruz vermelha, chegaram. Desde o tempo em que aqueles homens usavam um troço de ouro na cabeça, nada mudou. E desde que aquela faixa verde-amarela foi objeto de disputa, tudo continua do mesmo jeito.
     Os filhos da senhora são penalizados, diariamente, por crimes que ninguém cometeu. São roubados por gente que deveria lhes proteger. São estuprados, diuturnamente, por gente igual a eles mesmos. São mortos por vítimas do mesmo sistema do qual todos fazem parte.
     Os filhos desta prostituta, cafetaniada por muitos anos e por muita gente, são filhos do azar. São filhos das 5:00 da manhã e vítimas do mais tardar. São filhos da mãe e vítimas do pai. São filhos da Pátria Amada e vítimas do Brasil, enfim.
     Por mais vítima que os filhos desta senhora sejam, há sempre o dia seguinte. O dia anterior lhes é renegado para que o posterior seja o dia, todo dia. Mesmo com todas as dificuldades, deve-se procurar melhorar cada dia mais. Deve-se trabalhar pensando em sim e naqueles que fazem parte da sua vida. Não desistir é mais fácil quando pensamos nas pessoas que amamos.
     E continuemos a luta. Descançar apenas quando a luta estiver ganha! E aqueles que levantam sempre cedo, não se desamimem! Vocês sempre vêem o nascer do Sol!